terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Gene "egoísta" pode dividir espécie de mosca em duas

Dois grupos independentes de cientistas mostraram que uma alteração em um único gene é capaz de fazer uma espécie de animal se dividir em duas. Em estudos separados publicados na edição atual da revista "Science", biólogos trabalhando com moscas e com roedores mostram que as forças que levam as categorias de seres vivos a se subdividirem não estão somente no ambiente, e podem emergir do DNA. No primeiro dos dois trabalhos, os biólogos Nitin Phadnis e Allen Orr, da Universidade de Rochester (EUA), descrevem um gene da mosca-das-frutas Drosophila pseudoobscura batizado com o nome Overdrive. Comparando uma variedade colombiana do inseto com uma americana, os cientistas descobriram que diferenças neste gene atrapalham a miscigenação das duas populações. Phadnis e Orr viram que, quando moscas das duas variedades cruzam, quase não nascem machos, e os poucos que nascem são estéreis. Para saber se o Overdrive era mesmo o culpado por essa incompatibilidade, os biólogos alteraram esse gene na espécie colombiana, e as moscas passaram a se reproduzir normalmente. "O Overdrive é um gene egoísta porque ele mata o esperma que não o contém, e isso significa que ele está se propagando com custos para seu portador", explicou Phadnis. "Além disso, a distorção na proporção entre os sexos causada pelo Overdrive pode, em tese, levar a um desequilíbrio populacional tão grande, pendendo para as fêmeas, que é capaz até de levar a espécie à extinção por falta de machos." Esse efeito bizarro acontece, em parte, porque o Overdrive está no cromossomo X, um dos que determinam o sexo (fêmeas têm dois cromossomos X e machos têm um X e um Y). O "egoísmo" do gene descrito por Phadnis se manifesta fazendo com que nasçam mais fêmeas, aumentando o estoque de cromossomos X contidos na prole. O estudo sobre as moscas saiu na "Science" junto de um trabalho sobre camundongos, mostrando um efeito semelhante. Um gene também pode causar esterilidade em indivíduos que são híbridos de duas subespécies do roedor. "Identificar genes que causam problemas em híbridos é uma tarefa difícil", diz Phadnis. "Após várias décadas de trabalho duro feito por vários grupos, menos de dez genes foram encontrados." Phadnis não se refere, claro, ao tipo de incompatibilidade que ocorre nos cruzamentos entre cavalos e jumentos, por exemplo, onde toda a prole é estéril. Segundo o conceito de espécie mais usado, essa incompatibilidade total já permite dizer que esses dois animais são duas espécies distintas. As novas descobertas com moscas e roedores, porém, parecem estar flagrando a divisão de uma espécie no meio do caminho e incendeiam uma discussão antiga entre biólogos. Alguns teóricos dizem que espécies novas surgem mais como reação a mudanças no ambiente. Populações de um mesmo animal em habitat diferentes, por exemplo, podem evoluir divergindo até ficarem tão distintas que se tornam geneticamente incompatíveis. Phadnis, porém, mostra que o processo pode ser mais direto: uma mudança espontânea no DNA é capaz de causar a ruptura, independentemente do ambiente

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