quinta-feira, 9 de abril de 2009

Aldeia espanhola atrai turistas na páscoa com a 'Dança da Morte'

Na pequena cidade de Verges (nordeste espanhol) a Quinta-Feira Santa é o dia mais importante do ano. A aldeia de 1,2 mil habitantes recebe cinco mil turistas para uma cerimônia medieval que abre os eventos da Páscoa com a dança da morte. O acontecimento antecede as tradicionais procissões da Via Crucis e é representado na cidade desde 1333. Com a participação da maioria da população (são mais de 700 figurantes), a dança tem como personagens principais dez fiéis vestidos de esqueletos que vão bailando ao ritmo compassado de um tambor. A cidade inteira fica em silêncio e iluminada apenas pela luz de tochas para enfatizar o ambiente da aproximação da morte. O tambor soa como a batida de um coração. Segundo a lenda da Catalunha, onde se localiza Verges, a tradição da dança da morte começou no século XIV quando a epidemia da peste negra devastou a Europa. Os historiadores espanhois calculam em torno de 25 milhões de mortos em menos de cinco anos, um terço da população do continente na época. Em Verges, de acordo com lenda, os habitantes eram pagãos e os que sobreviveram à peste negra, se converteram ao cristianismo. Inventaram a dança como um ritual de pedido de intervenção divina contra as tragédias. A procissão percorre os nove quilômetros quadrados da aldeia durante quatro horas com os dez fiéis vestidos de esqueleto (cinco deles crianças menores de 12 anos) carregando os símbolos da morte. O primeiro é uma bandeira com as inscrições em latim "nemini parco" ("ninguém escapa"). Há foices, um relógio sem ponteiros indicando que a morte não tem hora para chegar e pratos com cinzas, recordando que os humanos são pó e ao pó retornarão. O restante do cortejo tem fiéis com longas túnicas, usando máscaras de caveiras e carregando tochas. Representam a aproximação do momento da crucificação de Cristo. A procissão da dança da morte termina dentro da igreja de Santa Júlia. O tambor para e os esqueletos se curvam diante do altar em reconhecimento à onipotência de Deus. Após o baile mórbido entram os personagens bíblicos, figurantes que completam a cerimônia, encenando os últimos momentos da vida de Jesus. Segundo o presidente da Associação da Procissão de Verges, Antonio Casabó, o evento foi pensado para ser representado por homens porque na Idade Média as mulheres estavam banidas da maioria dos atos religiosos. "É uma cerimônia masculina. Os primeiros registros já indicavam essa regra, depois o Conselho de Trento em 1545 oficializou a dança da morte e voltou a negar a participação de fiéis mulheres", disse Casabó à imprensa."Logo veio a inquisição espanhola e de lá para cá isso nunca mudou. Não gosto dessa norma, mas aqui tentamos manter as tradições, é a nossa maior relíquia", completou.

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