Uma dose de aspirina pode impedir danos no fígado causados por paracetamol ou pelo consumo elevado de álcool, de acordo com pesquisadores americanos. Um novo estudo com ratos, realizado por uma equipe da Universidade de Yale, em Connecticut, foi publicado na revista científica Journal of Clinical Investigation. Os pesquisadores concluíram que a aspirina diminuiu o índice de mortalidade nos animais que tomaram doses altas de paracetamol (substância de propriedades analgésica e antitérmica encontrada em uma série de remédios). Os cientistas dizem acreditar que a aspirina interfere em um processo químico que desencadeia uma inflamação dentro do fígado. Especialistas do British Liver Trust, entidade beneficente britânica de estímulo a pesquisas sobre o assunto, dizem, no entanto, que ainda não há provas de que a aspirina pode, de fato, ajudar humanos. Estudando a forma como o álcool e o paracetamol danificam o fígado, os cientistas descobriram que essas substâncias provocam danos iniciais que, por sua vez, desencadeiam uma reação inflamatória. A inflamação pode levar, eventualmente, a danos maiores. O novo estudo conclui que há muito menos probabilidade de os ratos morrerem após receber doses muito altas de paracetamol se eles tiverem recebido também uma pequena dose de aspirina. Os cientistas avaliam que a aspirina é capaz de bloquear um receptor químico em células do fígado. Este receptor seria o desencadeador do processo inflamatório. A mesma equipe de pesquisadores diz ter conseguido isolar determinadas moléculas, chamadas antagonistas TLR, que também seriam capazes de bloquear esse receptor químico. Os especialistas afirmam, no entanto, que - por ser barata - a aspirina pode ser útil como terapia preventiva. O responsável pelo estudo, Wajahat Mehal, diz que muitos agentes, como drogas e álcool, podem provocar danos no fígado. Os índices de cirrose hepática em uma população aumentam proporcionalmente ao consumo de álcool. Incidentes envolvendo intoxicação por paracetamol, deliberada ou não, podem ser fatais. Em grande parte dos países ocidentais, a maioria dos casos de intoxicação por remédio envolve o uso de paracetamol - só na Grã-Bretanha, a droga provoca cerca de cem mortes por ano. Mehal afirma que ele e sua equipe descobriram duas formas de bloquear o processo químico responsável por esses danos. O cientista diz que a estratégia é usar a aspirina em doses diárias para prevenir danos no fígado e, se eles acontecerem, tratar o problema com os antagonistas TLR. O pesquisador avalia que a nova abordagem poderá reduzir muita dor e sofrimento em pessoas que sofrem de doenças hepáticas. Apesar das conclusões do novo estudo, uma porta-voz do British Liver Trust recomenda cautela ao interpretar os resultados da pesquisa. "Pedimos que qualquer pessoa que tomou mais do que a dose recomendada de paracetamol procure o médico imediatamente", disse a porta-voz. "Também é importante lembrar que, até o momento, não há provas clínicas de que qualquer substância seja capaz de proteger o fígado contra consumo excessivo de álcool", acrescentou. "Recomendamos ainda que qualquer pessoa que pretenda tomar aspirina por mais do que alguns dias consulte seu médico", concluiu a porta-voz. O Serviço Nacional de Saúde britânico alerta que a aspirina pode causar irritação no estômago e aumentar o risco de hemorragias e ulcerações.
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