segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Brasileiros pedalam 400 km em busca de emprego no Japão

Os brasileiros Flávio Ideiti Murakami, de 22 anos, e Érica Kosaka, de 26, não são atletas, mas percorreram mais de 400 quilômetros de bicicleta no Japão depois de ficarem desempregados, sem dinheiro e sem ter onde morar. Vivendo num lugar distante e desconhecido para eles, resolveram pegar a estrada e voltar para onde haviam começado a vida no país, em busca de emprego. Os dois levaram quase duas semanas para completar a viagem da cidade de Ono, na província de Hyogo, até Hamamatsu, em Shizuoka. “Dormíamos em banheiros públicos, em frente às estações de trem e perto de postos policiais”, conta Érica. “Tinha hora que o desânimo e a fome eram tão grandes que dava vontade de ficar quieto num canto, só esperando a vida passar”, lembra Flávio. Para comer, eles contavam com a boa vontade dos japoneses. “Pedíamos verduras e frutas nas pequenas hortas”, lembra a jovem, que chegou a emagrecer mais de 10 quilos desde que perdeu o emprego. O companheiro também perdeu perto de seis quilos. Medo, vergonha e decepção foram os sentimentos que mais martelaram a cabeça dos dois jovens durante esse período. “A gente vem ao Japão cheio de sonhos e nunca espera que uma coisa destas possa acontecer”, diz a brasileira. “O pior é a humilhação que temos de passar, como se fôssemos bandidos ou vagabundos”, desabafa. O casal tinha ido até a distante província após perder o emprego anterior. “Já estávamos sem teto quando nos ofereceram vaga numa fábrica de alimentos e, como estávamos precisando muito, aceitamos fazer a mudança”, conta Érica. O que não estava nos planos era ficar novamente sem emprego menos de um mês depois. “O pior é que não recebemos nenhum centavo, pois descontaram o valor da mudança, aluguel e impostos”, diz desconsolada. Quando Érica Kosaka desembarcou no Japão há nove anos, levava na mala, além de roupas, muita esperança. Ainda no avião, ela fazia planos de constituir uma família e comprar uma casa própria no Brasil. “Só queria ser feliz, como qualquer outro”, diz ela. Mas o sonho da jovem, que deixou a pequena Ilha Solteira, no interior de São Paulo, em busca de uma melhor qualidade de vida, começou a virar pesadelo quando foi atropelada na saída da fábrica, ano passado. O acidente a fez ficar parada desde então. Ainda hoje, como seqüela, ela não consegue carregar muito peso. Para sobreviver, teve de gastar parte da poupança que havia juntado. Durante a jornada, ela ainda se separou do companheiro, com o qual teve dois filhos, e foi morar com o pai. Tempos depois conheceu Flávio, com quem está até hoje. “Essa situação toda só consigo suportar por causa do apoio mútuo que damos um ao outro”, conta. Em agosto deste ano, Flávio e Érica se viram na pior situação. Perderam o emprego e foram obrigados a deixar o alojamento da empresa. Com duas crianças pequenas, deixaram tudo o que tinham juntado de pertences para trás e foram morar na rua. “Dormimos num banheiro público e usei minhas roupas para fazer uma caminha para as crianças”, lembra Érica. Depois deste dia, a assistência social da prefeitura foi atrás do casal e os filhos foram entregues ao pai biológico, que os levou de volta ao Brasil. “Consegui falar uma vez com os pequenos. Agora, sinto que não querem que eu tenha contato com eles”, fala a jovem, que chora toda vez que lembra dos filhos. “O que mais quero agora é comprar uma passagem de volta ao Brasil e ficar lá, do lado deles”, confessa. “Japão, nunca mais”, decreta. Flávio também não vê a hora de voltar para Bauru, interior de São Paulo, e ficar com a família. “O Japão é uma ilusão.”

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