Dois mil anos após a sua morte, uma nova biografia sobre a rainha egípcia Cleópatra desmente duas das mais conhecidas histórias a seu respeito: ela jamais surgiu diante do imperador romano Júlio César desenrolando-se de um tapete oriental e também não se matou com a picada de uma cobra Naja, imagem imortalizada em pinturas, filmes e livros. A obra sustenta ainda que a beleza certamente não era um de seus mais importantes atributos e para isso se baseia nos escritos da época, os quais nunca fazem menção especial a sua aparência física. O filósofo francês Blaise Pascal, que era um devotado admirador da rainha, afirmou certa vez que o belo formato de seu nariz mudara para sempre a história do mundo. Informação contestada no ano passado quando foi divulgada uma moeda cunhada com o perfil de Cleópatra em que o seu septo nasal se assemelha ao caricato perfil das bruxas. Para a autora de Cleopatra: last queen of Egypt, a arqueóloga britânica Joyce Tildesley, especializada na cultura egípcia, a história que se conhece hoje sobre a rainha nos foi contada pelos seus detratores, já que após a sua morte o imperador romano Augustus mandou destruir tudo o que dissesse respeito a ela e ajudou a pintar para a posteridade o retrato de uma mulher leviana, imoral e que usou a sedução para levar à ruína os imperadores Marco Antônio e Júlio César. A obra afirma que alguns registros históricos sugerem que ela poderia ser uma mulher negra, porque a sua ascendência materna seria proveniente do norte da África e a paterna, da Macedônia. Cleópatra foi uma mulher rica e independente, moderna demais para os padrões romanos. Filha do imperador Ptolomeu XI, ela cresceu na sociedade egípcia dos séculos V e IV a.C., que era muito mais liberal que a romana. Segundo o historiador grego Herodotus, as mulheres tinham independência política e social e foi nesse meio que se forjou a personalidade exuberante e determinada de Cleópatra, que aos 18 anos, com a morte do pai, assumiu o reino. Conta a tradição que ela falava diversos idiomas, tinha inteligência acima da média e era considerada uma deusa pelos súditos. Sempre teve autonomia para estudar, escolher o próprio marido e até promover o que hoje se chama divórcio – prerrogativas que não existiam entre as mulheres romanas. No livro, a arqueóloga a descreve como uma mulher movida pela razão e não pela emoção: “Ela tem de ser compreendida como a rainha que era, pragmática e determinada, e não como uma consorte dos romanos.”
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