Algumas escolas da Região Metropolitana de Porto Alegre registram um fenômeno tão triste quanto surreal. Elas contabilizam mais alunos que abandonaram as aulas ou foram reprovados, do que alunos aprovados ao final do ano letivo. É o caso do Colégio Estadual Julio de Castilhos, o prestigiado “Julinho”, um dos mais tradicionais da capital gaúcha e com 108 anos de idade. Conforme os dados do Censo Escolar 2006, ele teve 48,9% de alunos aprovados e 51,1% de reprovados. A realidade é um pouco diferente, explica o diretor do Julinho, João Figueiró. “Como o número de reprovados estão embutidos os que abandonaram a escola. É que os reprovamos assim que deixaram de comparecer a um determinado número de aulas. No próximo levantamento, teremos em separado a evasão e o número de reprovações vai cair”, admite. Um dos reprovados no Julinho é Maurício Silva dos Santos, 17 anos. Office-boy, ele começou a fazer curso supletivo à noite e largou as aulas da tarde. Vai à escola, mas prefere ficar namorando na praça em frente ou no shopping próximo ao colégio. É o terceiro ano em que Santos é reprovado por faltas. Segurar jovens como Santos é o desafio do diretor Figueiró. Mas não é só. Dados do Censo Escolar 2006 transmitem um alerta ao Rio Grande do Sul. Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC), dos cerca de 1,7 milhão de alunos, 341 mil foram reprovados. Nas públicas, 332 mil não passaram de ano. Os números — de 2006, último ano em que o estudo foi realizado — transformam o Rio Grande do Sul em campeão nacional de alunos reprovados no Ensino Médio. Cerca de 20% dos secundaristas gaúchos rodaram nas aulas no ano anterior ao da pesquisa. Já com relação a alunos do Ensino Fundamental, os gaúchos não estão mal. Foram superados, em reprovações, por baianos, sergipanos, sul-matogrossenses, alagoanos, paraenses, entre outros. Esta reprovação custa dinheiro. No caso dos 332 mil que rodaram nas provas de final de ano da rede pública de ensino (estadual, municipal e federal), os cidadãos tiveram de custear, com impostos, o retorno destes adolescentes ao estudo. A volta às aulas custou cerca de R$ 498 milhões. O cálculo é feito por Zero Hora com base no custo médio de um estudante no país, que é de R$ 1,5 mil anual, já que o Rio Grande do Sul não tem contabilizada uma média própria. Com essa verba, destinada a manter na escola aqueles que rodaram nos colégios públicos, seria possível construir 7.661 salas de aula no Rio Grande do Sul ou reformar o dobro dessa quantia. Isso porque cada sala construída pela Secretaria Estadual de Obras Públicas custa em média R$ 65 mil. Existe a hipótese para o elevado número de repetências escolares no Rio Grande do Sul de que o ensino seja mais rigoroso do que em outros Estados. Alunos com mau desempenho são reprovados, enquanto em outros lugares estariam sendo passados.
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