segunda-feira, 19 de maio de 2008

Seqüestros virtuais e pânico real, assolam o México

O telefonema começa com o choro angustiado de uma criança chamando pelos pais: “Mamãe! Papai!” Os soluços são rapidamente substituídos por uma rouca voz masculina que não está para brincadeiras. “Estamos com o seu filho”, ele diz num espanhol rápido, normalmente adicionando um palavrão como efeito e então despejando uma lista de reivindicações, que podem incluir dinheiro ou jóias sendo deixadas numa certa esquina, ou um considerável depósito a ser feito numa conta bancária local. O bizarro é que o pequeno Pablo ou Teresa está são e salvo na escola, e não amarrado a uma cadeira em alguma casa abandonada ou enfiado no porta-malas de algum veículo. Mas, quando o telefonema chega, isso não fica claro. Esse é o “seqüestro virtual”, nome que vem sendo dado à nova onda de crimes no México, já bastante manjadas aqui no Brasil. “Isso reflete o medo da sociedade mexicana, a psicose coletiva sobre o seqüestro”, diz Adrienne Bard, uma jornalista americana que vive no México há mais de 20 anos e que recebeu, em março, a ligação de uma menina chorando que ela, em estado de choque, pensou ser sua própria filha. “Eu caí completamente na armadilha”, diz. E assim fizeram muitas outras pessoas. Joel Ortega, chefe de polícia da Cidade do México, anunciou recentemente que o novo número de telefone especial para atender ao problema dos “seqüestros virtuais” recebeu mais de 30 mil ligações desde dezembro último até o final de fevereiro. Ele diz que foram registradas oito prisões e 3.415 números de telefone foram identificados como usados pelos malfeitores. Mas identificar os números de telefone – eles agora estão listados em um site do governo – pouco tem adiantado para diminuir as ligações de extorsão. As autoridades dizem que quase todas as ligações são feitas de telefones celulares, em sua maioria, roubados. Como se não bastasse, acredita-se que vários dos golpes são aplicados de dentro de prisões.
Curiosidade:
Em novembro último, mais de uma dúzia de membros do Congresso Mexicano receberam ligações dizendo que seus filhos haviam sido levados, fazendo com que o Legislativo suspendesse o trabalho do dia. Investigações posteriores indicaram que os congressistas provavelmente não eram alvos específicos, mas receberam os telefones no mesmo dia porque possuíam números de telefone consecutivos.

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