ONTEM CARAS PINTADAS, HOJE CARAS DE PAU!

Embora o PT tenha gritado "Fora FHC", nem mesmo os petistas assumem hoje que o fizeram. Mas nada têm contra o "Fora Collor" - o ex-presidente é aliado de Lula hoje em dia. Bem, o que legitimava o povo na rua? Ora, as acusações de corrupção que havia contra o então presidente e seu caixa de campanha, PC Farias. Olhem aqui: à época, estimou-se que o esquema PC pudesse movimentar até R$ 1 bilhão, mas era puro chute - assim como se falou em R$ 5 bilhões ligados ao PT, também sem ter como comprovar. Dinheiro mesmo, de que se tenha tomado conhecimento, no caso de Collor, foi a chamada Operação Uruguai - US$ 3,7 milhões, uma verdadeira mixaria perto do que Marcos Valério, apenas um dos tentáculos do esquema, mobilizou sozinho. A guilhotina, para Collor, chegou com um prosaico Fiat Elba - ninguém da sua família ou círculo de amigos se tornou dono de canal de TV, por exemplo. E o "Fora Collor", no entanto, era visto como o despertar da cidadania, do bem, do belo, do justo, do humano que é divino. Vocês não arrancarão deste escriba um: "Ah, foram injustos com Collor". Não, não! Achei justíssimo. A confissão de Duda Mendonça, na CPI, em 2005, de que dinheiro sem origem declarada financiara a campanha do presidente - tendo sido depositado na conta do publicitário no exterior - é mais do que suficiente para legitimar um "Fora Lula". E não esse "fora" apenas retórico de agora. A queda de Collor foi justa, sim. Mas se vê que caiu pelos maus motivos, não pelos bons. Chega de mistificação e covardia intelectuais. PC Farias era um amador. Os profissionais são estes de agora. Contra Collor, os caras-pintadas foram às ruas. Em favor de Lula, entram os caras-de-pau...

Reinaldo Azevedo(VEJA)