quarta-feira, 5 de maio de 2010

Financial Times alerta economia do Brasil para 'fanfarronice latina'

Um editorial publicado nesta quarta-feira no jornal britânico Financial Times alerta para uma "fanfarronice latina", em especial do Brasil, em relação à sua própria situação econômica. Em um artigo intitulado precisamente assim (Latin Swagger), o jornal avalia a maré de boas notícias econômicas sobre a região e, em especial, sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, escolhido pela revista americana Time na semana passada como o primeiro de uma lista de personalidades mais influentes do mundo. Embora reconheça que haja motivos reais para celebrar sua situação econômica, o Financial Times faz uma alerta para o que chama de "complacência" latino-americana, e brasileira em especial, em relação ao seu próprio futuro. "O maior perigo financeiro que a América Latina enfrenta agora é a complacência, especialmente no Brasil", diz o jornal. "As piores quedas normalmente ocorrem justo quando se está cantando de galo." A argumentação do jornal é a de que a região contou com uma boa dose de "sorte" na última década. Primeiro porque, calejados por crises anteriores, os bancos latino-americanos preferiram olhar para o mercado interno e evitar embarcar no risco de se expor aos empréstimos do tipo subprime, que terminaram contaminando as economias mais avançadas. Além disso, diz o editorial, a demanda por commodities na Ásia puxou as economias latino-americanas mesmo durante a tempestade econômica nos países ricos. Por fim, argumenta o FT, as baixas taxas de juros americanas, próxima do zero, fizeram a região receber um influxo de recursos em busca de retorno mais alto. "Qualquer um desses fatores sozinhos seria capaz de sustentar um boom. Mas a América Latina está desfrutando de todos ao mesmo tempo. Como alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI), se trata de uma bonança sem precedentes." Para o FT, os países da região devem procurar olhar para além da bonança e tomar medidas como evitar a apreciação exagerada do câmbio – o jornal menciona especificamente o Brasil e a Colômbia – e investir em obras de longo prazo, como no setor de infraestrutura. "Ainda assim, pode haver um excesso de capital", avalia o editorial. "O crédito brasileiro tem saltado a uma taxa de 47% e os preços de imóveis no Rio de Janeiro têm subido cerca de 50% ao ano". Para o diário, esses são "apenas dois sinais de alertas de uma dor-de-cabeça pós-boom que ainda está por vir".

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